Estradas de Silêncio e Sonhos

Viajar o silêncio das palavras ao vento. Descobrir o som do amor nos cantos da praça. Sonhar a esperança das cores em vozes dissonantes. Questionar o insensato. Ver, ouvir, tocar, pensar, agir, criar, estar, ser. Viver!

Fragmentos do Desejo – Cia. Dos à Deux 18/07/2011

André Curti e Arthur Ribeiro (Cia. Dos à Deux)

Certa vez eu e um diretor/professor de teatro discutimos porque ele disse não ir ver espetáculos e eu achei aquilo um absurdo, então disse com certa exaltação apaixonada:

_ Como assim? Como um profissional da área não vê espetáculos? Eu acho que é praticamente uma obrigação ver teatro para quem faz teatro.

Eu tinha 20 e poucos anos. Passados 10 anos eu entendo completamente esse diretor. A ingenuidade artística vai acabando com o tempo e tenho visto tanto lixo rotulado arte que fiquei bons meses sem fazer maratonas teatrais como eu fazia antigamente.

Eis que nesta fria noite de 17 de julho de 2011, depois de uma semana visitando a exposição de ESCHER (que é arte de verdade, em minha singela opinião) vou ao teatro do Sesc Consolação, ver Fragmentos do Desejo de um grupo de bailarinos/mímicos que eu sou fã há uns bons anos (desde o primeiro espetáculo que vi) e desde então não perco um só trabalho que vem ao Brasil.

Saí sem palavras e com vontade de ficar sentada ali pelo menos mais umas 3 horas vendo aquilo tudo ser contado a mim. Ausência de palavras repleta de história. Isso é algo que acho magistral no que eles desenvolvem, eles contam história e a expressam tão objetivamente e tão claramente que as palavras acontecem em nossa imaginação e como é lindo ver quando a comunicação acontece mesmo sem elas, as palavras. Ai então, a história universal acontece através da emoção, da memória e do sentimento.

Apresentam no palco uma qualidade impecável e conseguem da platéia um silêncio delicioso de se ouvir, o silêncio de comunhão e de respeito. Não me importa questionar se é dança, se é mímica, se é teatro, o que importa é dizer que é um trabalho artístico incrível. Adoro ver um grupo desenvolvendo e maturando uma linguagem cênica e a Cia. Dos à Deux criada por André Curti e Arthur Ribeiro conseguem isso projeto após projeto.

Cada gesto, cada cena, cada elemento é de um cuidado, de uma delicadeza, de um significado único, de bom gosto e acima de tudo com muita, muita criatividade. Isso me encanta desde o Dos à Deux, como um objeto do cenário se transforma em tantos outros criando vários universos dentro de um único palco.

Ficaria aqui horas descrevendo e escrevendo sobre cada uma das cenas, mas nunca vai ser o que é apresentado. Dos à Deux, Aos pés da Letra, Saudade em terras d´água e Fragmentos do Desejo são espetáculos que eu adoraria colocar em caixinhas mágicas e poder assisti-los quando eu quiser, tantas vezes quanto desejar.

Esse ano começou com muitas reflexões sobre como estou conduzindo o meu ofício e a minha arte após uma viagem de silêncio e sonhos realizada e ontem a noite ao sair do teatro a certeza ainda maior de que ainda distante do objetivo, há a certeza de que quero realizar este tipo de arte, com esta qualidade e maturidade, com a dedicação e amor que sempre tive por esse mundo mágico da caixa preta, onde tudo pode acontecer.

Agradeço o presente que me foi dado por meu amigo Fransisco PH.

Para conhecer o grupo entre no site:

http://www.dosadeux.com/?lang=fr

Foto tirada do site Cia. Dos à Deux