Tenho ido cada vez menos ao cinema e tenho me encantado cada vez menos com as histórias contadas por aí.
Mas há uns dois meses me deparei com o trailer da animação O menino e o mundo e achei tão bonito e diferente os traços utilizados para a criação, que fiquei esperando a estreia com bastante curiosidade.
A estreia veio e por estar atarefada demais não estava conseguindo ver o filme. Quanto mais comentários surgiam no mundo virtual, mais me dava vontade de prestigiar esse menino e o seu mundo. Até esse final de semana, quando finalmente tudo deu certo. Fomos eu e minha irmã no espaço Itaú de cinema no Shopping Bourbon.
Crianças, adultos e adolescentes preenchendo a plateia e eis que o filme começa e eu me pego completamente extasiada com tanta beleza e delicadeza.
Um filme que tem uma lógica rebuscada (no bom sentido), um filme que é feito para os pequenos, mas feito, principalmente, para os pequenos que cresceram e se tornaram adultos, para os que esqueceram a sua criança em algum pedaço do caminho ou para aqueles que sempre a mantiveram por perto.
Uma história trágica e mágica… um menino em busca de seu pai descobre o mundo… se descobre… se engole.
O menino e o mundo consegue, como há muito não via no cinema nacional, fazer um retrato do sistema caótico e massacrante em que vivemos. E consegue isso de um jeito que nos faz refletir profundamente sobre o que estamos fazendo com nossas vidas. Fala da política, do capitalismo, da opressão, da inércia, da desilusão de um jeito tão lindo, tão pueril, que nos faz mergulhar mais ainda nessa reflexão. Um filme nacional que fala sobre tudo isso, sem a violência, sem o maniqueísmo, sem a panfletagem e sem o preconceito com que estamos habituados em nossas telas.
Acredito muito que quando queremos apontar e retratar um macro organismo e seus esquemas, devemos falar sobre o micro universo inserido nele. Ao falar da história desse menino, descobrimos o nosso mundo… enxergamos o nosso mundo… revelamos a nossa essência social.
O filme me fez sair com um nó na garganta, porque eu era aquele menino; menino este que é o espelho de muitos de nós. Sai quase sem ar, de ver naquelas pequenas ausências, solidões, resignações, apatias, partes de mim, partes do todo.
Eu tinha um filme nacional que em minha opinião era imbatível, Lavoura Arcaica. Sou apaixonada por esse filme. Depois alguns outros entraram para minha lista de xodós: A pessoa é para o que nasce, Fé, Nós que aqui estamos por vós esperamos e Só 10% é mentira. Hoje, O menino e o mundo entra para a minha lista de melhores filmes nacionais que já assisti.
Saí com orgulho do cinema, por ainda existirem artistas brasileiros que tem a capacidade de retratar as intempéries do mundo de maneira tão poética. O menino e o mundo é um filme especial! Um filme bem feito e que tem o que dizer. Um desses filmes que deveria ganhar um Oscar de melhor filme ou melhor animação. Torceria por ele, não por um xenofobismo cego, mas porque é uma obra de arte merecedora de reconhecimento internacional.
E que façamos cada vez mais música e cada vez mais vibrante! Viva a fênix!
crédito foto: internet
Estradas de Silêncio e Sonhos 