Estradas de Silêncio e Sonhos

Viajar o silêncio das palavras ao vento. Descobrir o som do amor nos cantos da praça. Sonhar a esperança das cores em vozes dissonantes. Questionar o insensato. Ver, ouvir, tocar, pensar, agir, criar, estar, ser. Viver!

E o resto é silêncio… 13/09/2013

Cemitério do Araçá / SP

Cemitério do Araçá / SP

Sempre que passo pelos cemitérios da cidade tenho a sensação de sentir o silêncio que se esconde por detrás das paredes frias dessa morada. Como se uma redoma separasse o nosso mundo daquele outro. Como se fosse possível ouvir a quietude vinda de lá, enquanto o caos urbano nos engole a todos.

Tenho transitado por dias de reflexões e buscando meus recantos, reencontrando meus prazeres e ansiado muito pelo silêncio.

Ontem foi um desses dias, em que saindo de uma jornada de trabalho em direção a próxima, resolvi saltar do ônibus e seguir um trecho do percurso a pé. Estava um daqueles dias em que tenho o prazer de sentir o vento fresco, numa tarde de fim de inverno. Amo as estações amenas, me trazem a calma que eu preciso e me aliviam do barulho insistente. Então, lá fui eu pela avenida, testemunhando intolerâncias, quando passei em frente ao Cemitério do Araçá (SP).

Passei pelo primeiro portão e segui meu caminho, esses lugares me assustam um tanto. Continuei, passei direto pelo segundo portão, aberto…  Voltei… Entrei… Aquele silêncio que eu sentia, existe. Há uma calma, uma tranquilidade perturbadoras que seguem os caminhos que levam às lápides e mausoléus. Mas, naquele momento era o que eu precisava, era o que eu necessitava para me arrancar das minhas estridências cotidianas.

Caminhei e fui registrando as estátuas guardiãs desse outro mundo, o mundo de lá. Tão expressivas, tão fortes, tão cheias de histórias e marcadas pelo tempo. Como se em cada pedaço de mármore habitassem palavras de amor, saudade e esperança.

Enquanto caminhava, as últimas folhas secas dançando com o vento (elas também se enamoram dele e se despedem do inverno), dois ou três homens passavam por lá e, então, foi deles que tive medo. Medo de testemunharem meu momento de reinícios, de renascimentos, de renovações, e fui me escondendo entre as lápides e continuei registrando aquelas figuras. Notei, os olhares de vários gatos, de todas as cores e, para eles, eu era como aqueles homens que me assustaram com suas presenças…

Quis ficar mais, quis conhecer cada viela, quis registrar mais figuras, mas precisei voltar a vida real e dar continuidade a máquina.

Talvez voltarei mais vezes para roubar um pouco do silêncio e poderei criar o meu próprio LIVRO DO CEMITÉRIO, assim como Neil Gaiman criou o dele.

A morte tem dessas esquisitices…

13/09/2013

 

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